Metodologia e linguagem de trabalhos académicos

Avaliação por pares

A avaliação por pares (aquilo que em inglês é designado por peer review) é algo de fundamental para qualquer revista científica.

Isso, no entanto, pode significar coisas diferentes em diferentes áreas. Na área das ciências, onde já está instituída de forma sistemática há muito mais tempo, a avaliação por pares manifesta-se através de pareceres, sobre cada um dos manuscritos, que podem ser comentários gerais ou comentários pormenorizados, conforme as circunstâncias. É suposto esses pareceres serem elaborados por quem tem currículo que mostra que está dentro do assunto em causa e tem competências a esse respeito.

Os comentários gerais habitualmente são feitos quando o manuscrito não coloca qualquer problema e está pronto para ser aceite ou quando, pelo contrário, coloca problemas gerais, de perspectiva, desenvolvimento, organização, correcção, adequação, etc. Os comentários pormenorizados são habitualmente feitos quando o manuscrito não coloca problemas de fundo, mas apenas suscita dúvidas ou sugestões a respeito de aspectos de natureza mais ou menos específica.

Dos pareceres efectuados pelos pares, geralmente dois ou três, pode resultar a aceitação do manuscrito tal como foi submetido (algo que é raro, pois quem está de fora, pelo distanciamento, geralmente consegue dar conta de algo que pode ser melhorado), a rejeição do artigo ou a recomendação de revisão aproveitando os comentários e sugestões que constam dos pareceres.

Esta terceira hipótese é comum na área das ciências, mas não na área das humanidades, onde os autores frequentemente vêem as sugestões e comentários como uma intromissão de terceiros nos seus textos que, além disso, consideram pôr em causa a sua autoridade. Na área das ciências, ainda que, obviamente, seja muito mais agradável a recepção de um parecer a recomendar a publicação sem alterações, a revisão é encarada como uma oportunidade de melhoria ou aperfeiçoamento do artigo oferecida por quem não sabe necessariamente mais mas tem um distanciamento que lhe permite detectar aspectos que estão menos bem ou menos claros no manuscrito.

Como em qualquer actividade humana, é claro que pode haver pareceres mal feitos, injustos ou mesmo com outros interesses. Porém, em primeiro lugar, raramente há apenas um parecer sobre um manuscrito e, em segundo lugar, os autores podem sempre não aceitar os comentários ou sugestões de um parecer explicando porquê, ficando os responsáveis da revista com a responsabilidade de esclarecer o assunto e, eventualmente, dar-lhes razão. Por isso, no global, a revisão por pares, ainda que possa colocar algumas dificuldades e alguns problemas, tal como outras coisas, acaba por ser a solução menos má para o problema da qualidade e autoridade das publicações.