Conservar Património – memórias da criação de uma revista

António João Cruz

 

“A memória dos homens – escreveu Marguerite Yourcenar – assemelha-se aos viajantes fatigados que se desfazem das bagagens inúteis a cada pausa do caminho. Assim, chegarão de mãos vazias, nus, ao lugar onde devem dormir e, no dia do grande despertar, serão como crianças que nada sabem do dia de ontem” [1, p. 19].

Surge esta evocação da memória, agora, quando a revista Conservar Património, editada pela Associação Profissional de Conservadores-Restauradores de Portugal (ARP), completou 20 anos de publicação e, parece-me, anda perdida a memória de como começou e chegou ao que hoje é [2]. Memória, memórias, pequenas memórias sem importância. Património de uma revista que precisamente tem o Património como assunto e, pelo menos já assim foi, como preocupação.

A Conservar Património, hoje, é uma revista considerada internacionalmente. Isso é mostrado pelos indicadores bibliométricos de algumas bases de dados. Conforme a fonte e os critérios, está no 2.º quartil das principais revistas de Conservação e Restauro (Scimago e Scopus) [3, 4] e no 1.º quartil das principais revistas multidisciplinares da área das Humanidades (Web of Science) [5]. Mas esse estatuto não foi atingido agora. Aliás, já tinha subido mais quando, em 2018, integrou o 1.º quartil das revistas de Conservação e Restauro da Scimago, de onde depois saiu [3]. Como aí chegou e a vida que teve para além desses números, sem dúvida estimáveis, mas redutores, é algo que me parece estar a perder-se pelo caminho, após a mudança, de ruptura pessoal, ocorrida na revista em 2019. Então houve mudança da direcção da revista, novas formas de trabalho foram desenvolvidas, possivelmente novos objectivos foram estabelecidos. Mas a actual revista assentou nos alicerces que estavam então construídos e, em grande parte, seguiu a trajectória que existia.

Scimago

Scimago Journal Rank, https://www.scimagojr.com/journalsearch.php?q=21100463178&tip=sid&clean=0. Verde: Q1; amarelo: Q2; laranja: Q3.

Tudo começou no final de uma tarde de Abril de 2003, no exterior do edifício C8 da Faculdade de Ciências de Lisboa. A Francisca Figueira, conservadora de documentos gráficos no então Instituto Português de Conservação e Restauro, tinha ido colaborar com uma aula no Mestrado em Química Aplicada ao Património Cultural, que eu coordenava, curso que foi o primeiro mestrado em Portugal ligado à Conservação e Restauro. À saída, ficámos a falar nesse pátio, entre outras coisas, sobre a falta de publicações de Conservação e Restauro em Portugal e surgiu a ideia de se criar uma revista no seio da ARP, cuja Mesa da Assembleia Geral era então integrada pela Francisca. A ideia foi incentivada pelo facto de, nessa época, com condições que pareciam estar ao nosso alcance, a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) apoiar financeiramente a edição de revistas científicas. A ideia foi-se desenvolvendo e quando a Francisca tomou posse como presidente da ARP, no início de 2004, a revista era algo que já estava decidido e encontrava-se em preparação.

FCUL

Cartaz do Curso de Especialização em Química Aplicada ao Património Cultural, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que originou o mestrado com o mesmo nome.

Uma das questões mais debatida foi o suporte. O formato digital não tinha então a importância de hoje – basta pensar-se que a b-on ainda não exista quando se começou a pensar na revista. Também não existiam as redes sociais que hoje conhecemos, nem os browsers que hoje são mais usados. Em suma, o ambiente digital, em geral, não estava tão omnipresente como hoje e os conservadores-restauradores, por regra, ainda estavam a dar os primeiros passos com os computadores. Mas, mesmo assim, foi considerado que esse formato poderia permitir uma divulgação da revista menos limitada geograficamente. Porém, sem nuvens e sem pens, com discos com capacidade tão reduzida, hoje inimaginável, havia o problema da volatilidade da informação digital e havia o peso da tradição institucional do papel – e, com o apoio da FCT, que financiava a impressão, o papel venceu.

O modelo foi a revista Studies in Conservation, do Institute for Conservation of Historic and Artistic Works (IIC), que era e, historicamente, continua a ser a revista mais importante da Conservação e Restauro, ainda que não ocupe as primeiras posições dos rankings bibliométricos. Foi modelo para o conteúdo, assim como para o tamanho da página, o sistema de referenciação e o formato das referências bibliográficas. Para quê inventar outros formatos?

Studies in Conservation

Studies in Conservation, n.º 1.

Outra questão debatida foi a do anonimato do processo de avaliação dos artigos. A avaliação por pares, como acontece em qualquer revista da área das ciências, nunca esteve em causa. Não porque os avaliadores sejam melhores do que os autores, ideia que não tem sentido se são considerados pares, mas porque o distanciamento destes permite reparar naquilo que, devido ao envolvimento, escapa aos autores. Para evitar melindres, também era evidente que os avaliadores deveriam ficar anónimos para os autores. Simetricamente, parecia vantajoso que os avaliadores desconhecessem quem eram os autores. Porém, foi considerado que, na realidade, este seria um falso anonimato, pois num meio tão pequeno era muitíssimo fácil um avaliador identificar os autores. Por isso, optou-se pelo anonimato apenas dos avaliadores.

Quanto ao nome da revista, não houve muitas sugestões, mas o que ficou foi da autoria da Francisca. Parece que agora é uma marca registada em nome da ARP.

Em Março ou Abril de 2004 começou-se a divulgar a ideia, elaboraram-se as normas formais, fizeram-se contactos com possíveis autores. Pediu-se o subsídio à FCT. Até à saída de revista passaram-se muitos meses, necessários para a recepção dos artigos, sua revisão, paginação e, finalmente, impressão.

Eu fiquei como director e a Francisca Figueira como directora-adjunta, cargos que mantivemos até 2019. Para o 1.º número, a Alice Cotovio, de pintura mural, também assumiu o cargo de directora-adjunta, a Maria da Graça Campelo tratou do design gráfico (de que foi responsável durante toda a publicação em papel), e, assim como para os números imediatos, a Rita Horta e Costa (que ficou registada na ficha técnica) e a Joana Campelo (que preferiu manter a discrição), ambas de documentos gráficos, deram uma importante colaboração.

No dia 3 de Fevereiro de 2005 a revista foi formalmente lançada na livraria FNAC do Chiado, Lisboa, com apresentação de Simonetta Luz Afonso, antiga directora do Instituto Português dos Museus. O primeiro número tinha 7 artigos e um total de 74 páginas.

Convite - frente Convite - verso

Convite para o lançamento do 1.º número da Conservar Património - frente e verso.

Como era anunciado no editorial, a revista pretendia proporcionar um espaço aos conservadores-restauradores para a divulgação regular dos seus estudos e actividades, designadamente estudos conduzidos segundo uma metodologia científica, isto é, assentes em princípios bem definidos, realizados de forma rigorosa, com resultados e conclusões que podem ser sujeitos à avaliação e crítica por pares. Desse modo, pretendia contribuir para a disseminação do conhecimento de Conservação e Restauro, permitir algum acompanhamento de intervenções sobre obras do nosso Património Cultural e concorrer para o estabelecimento e fixação do vocabulário técnico em português, razão pela qual privilegiava a utilização da língua portuguesa [6].

N.º 1

Primeira capa do 1.º número da Conservar Património. Os exemplares com esta capa foram substituídos por outros com capa com indicação da data e do preço.

Os começos são sempre difíceis e o 2.º número da revista Conservar Património, que supostamente era semestral, só foi publicado quase um ano depois do primeiro. Ainda que com data de capa de 2005, foi lançado, na Faculdade de letras da Universidade de Lisboa, em 23 de Janeiro de 2006, com apresentação de Vítor Serrão e Maria João Neto. Tinha 7 artigos e 75 páginas.

Convite

Convite para o lançamento do 2.º número da Conservar Património.

As dificuldades continuaram, nomeadamente com a obtenção de artigos e o financiamento para a impressão, e só saiu um novo número, duplo (n.ºs 3-4), correspondente aos dois semestres de 2006, mais de um ano depois. Teve lançamento no Museu Nacional de Arte Antiga a 27 de Março de 2007, com apresentação de Dalila Rodrigues. Tinha 10 artigos, 95 páginas e a grande novidade de incluir autores estrangeiros, designadamente do Brasil e do Reino Unido.

Convite

Convite para o lançamento dos números 3-4 da Conservar Património.

A divulgação em papel não era fácil e a venda em livrarias, das que aceitavam à consignação, não compensava. Em contrapartida, pouco depois da publicação do 1.º número a revista já estava indexada na AATA – Abstracts of International Conservation Literature, mantida pelo The Getty Conservation Institute, a mais importante base de dados bibliográfica internacional especificamente de Conservação e Restauro. Quando saiu o número duplo de 2006 também já estava indexada nos Chemical Abstracts, da American Chemical Society. Não obstante o objectivo fundamental de pretender contribuir para o desenvolvimento da Conservação e Restauro em Portugal e do vocabulário em português, considerava-se que tal só seria possível se a revista tivesse relevância e isso, por sua vez, implicava que fosse reconhecida por serviços bibliográficos de referência, como era o caso dos dois mencionados assim como dos que vieram a indexar a revista posteriormente.

O número seguinte da Conservar Património, no entanto, teve características que não eram favoráveis a essa internacionalização, ainda que esse objectivo se mantivesse. No essencial, foi dedicado à publicação de uma fonte essencial para o conhecimento da história material de muitas pinturas antigas expostas em muitos museus nacionais: as memórias, infelizmente sucintas, do restaurador Luciano Freire (1864-1934) sobre as mais de trezentas pinturas que restaurou, entre as quais o Políptico de São Vicente, de Nuno Gonçalves, documento que circulava de forma muito limitada através de fotocópias, estando publicados apenas alguns curtos extractos [7]. Essa publicação deveu muito a José Alberto Seabra Carvalho, que, por exemplo, identificou as obras mencionadas, assim como a um conjunto de outras pessoas do Museu Nacional de Arte Antiga (onde se encontrava o manuscrito) e do Instituto Português de Conservação e Restauro, que colaboraram no processo de digitalização, designadamente no confronto do texto obtido por reconhecimento óptico de caracteres com o documento original.

Manuscrito

Primeira página do documento do Museu Nacional de Arte Antiga que corresponde aos Elementos para um Relatorio Acerca do Tratamento da Pintura Antiga em Portugal Segundo Notas Tomadas no Periodo da Execução Desses Trabalhos, da autoria do restaurador Luciano Freire, que esteve na origem e foi publicado no 5.º número da Conservar Património.

O lançamento desse número a vários títulos especial (n.º 5) ocorreu a 18 de Dezembro de 2007, no Museu Nacional de Arte Antiga, com apresentação de Manuel Bairrão Oleiro, então director do Instituto dos Museus e da Conservação.

Convite

Convite para o lançamento do 5.º número da revista Conservar Património.

Com o n.º 6 a revista voltou ao seu formato habitual e tradicional, que ficou pronto em Janeiro de 2009 e, como passou a acontecer daí em diante, não teve sessão de lançamento.

Os números seguintes (7 e 8, de 2008) introduziram uma novidade que, entretanto, tem estado a ganhar crescente importância em muitas revistas: foram números temáticos com artigos resultantes de comunicações num encontro científico, no caso o HMC08 – Historical Mortars Conference, que decorreu em Lisboa no Laboratório Nacional de Engenharia Civil [8, 9]. Sendo um encontro internacional, obviamente que isso contribuiu para alargar significativamente a lista de nacionalidades dos autores e para a disseminação da revista. Esta estratégia foi também uma forma de resolver o problema, durante muito tempo crónico, de falta de artigos. Mas, mesmo assim, em 2008 a taxa de aceitação de artigos foi de 50 %. O n.º 9, de 2009, teve idênticas características: resultou do encontro Colour 2008 – Bridging Science with Art, que se realizou na Universidade de Évora [10]. Este modelo só tornou a acontecer uns anos mais tarde, já com a revista em formato digital.

Conservar Património, n.º 7 Conservar Património, n.º 8 Conservar Património, n.º 9

Números temáticos da Conservar Património publicados em 2008 e 2009.

Entretanto, para se responder às exigências da FCT, no n.º 10 (de 2009) surge um Conselho Editorial composto por Ana Calvo, Ana Martins, António Candeias, Christian Degrigny, Edson Motta, Ester Ferreira, João Coroado, M.ª José González López, Mark Clarke, René Larsen, Rosário Veiga, Salvador Muñoz Viñas e Vítor Serrão, todos eles nomes de relevo em diferentes áreas da Conservação e Restauro ou em áreas relevantes para a Conservação e Restauro. Maioritariamente eram estrangeiros, mas também maioritariamente eram portugueses ou estavam ou tinham estado em Portugal. Mais do que uma participação activa, o que a revista mais lhes deve é a declaração de apoio e a confiança que, no fundo, constituíram a sua aceitação do convite para integrarem esse órgão da revista.

Durante o período correspondente à publicação dos três números temáticos, foram-se acumulando alguns artigos recebidos espontaneamente que permitiram a publicação dos dois números por ano, tal como era suposto, ainda que sempre com significativo atraso relativamente à data de capa. Porém, o problema da falta de artigos cedo voltou e em 2011 e 2012 foi necessário fazer números duplos. Ficou claro nessa ocasião que continuar com o formato em papel era uma opção sem futuro. Além disso, o financiamento da FCT era cada vez mais reduzido e como as vendas nunca foram significativas, também do ponto de vista financeiro não era possível continuar com esse formato.

No entanto, esta opinião da direcção da revista, constituída por mim e, como subdirectoras (designação adoptada no n.º 2 em substituição de directoras-adjuntas), pela Francisca Figueira e pela Maria João Revez (que tinha entrado no n.º 5, em substituição do Pedro Redol, e que se manteve até ao n.º 28), não foi bem acolhida pela direcção da ARP de então, que pretendia que a revista continuasse em papel (além disso com compromisso de aceitação de artigos ainda inexistentes de uma então futura instituição) e, mais ainda, reduzisse a periodicidade para anual. Se a revista passasse a formato digital os últimos cinco anos teriam acesso pago. Julgo que a ideia era ter para oferecer alguma coisa aos sócios da ARP, ainda que isso pusesse a Conservação e Restauro em segundo plano, atrás da associação. Ora nada disto contribuiria para os objectivos que tinham estado na origem da revista, nem para a resolução dos seus problemas. Aliás, iria agravá-los pois a menor frequência de publicação inevitavelmente aumentaria os tempos de espera, os quais já eram demasiado grandes. Ainda hoje tenho dificuldade em imaginar a dose de paciência que os autores de então tinham que possuir até poderem ver impressos os seus trabalhos.

Não sei como, lá se conseguiu convencer a direcção da ARP. Porém, mais tarde percebi que as divergências não tinham ficado resolvidas para a direcção da ARP. As questões ficaram a levedar até eclodirem em 2019, originando a minha saída da revista.

O primeiro número da revista Conservar Património em formato digital com acesso livre, o n.º 17, com data de capa de Junho de 2013, ficou online no mês seguinte. Essa mudança de suporte foi acompanhada de outras, algumas das quais directas consequências desta [11]. Em primeiro lugar, a distribuição da revista deixou de ter os constrangimentos da circulação física e ficou limitada apenas pelo acesso à Internet. Dessa forma, passou a chegar de igual modo a qualquer ponto do país ou a qualquer país. Isso permitiu divulgar melhor a Conservação e Restauro assim como atrair mais autores e mais artigos. Em segundo lugar, o formato digital juntamente com a mudança do processo de paginação e publicação que, de um modo mais caseiro mas com redução de custos, passou a ser realizado internamente, em vez de ser através da contratualização de um serviço como até aí acontecia, tornaram possível a disponibilização dos artigos pouco depois da sua aprovação, só mais tarde integrando um volume. Assim, reduziu-se significativamente o tempo de publicação, também desta forma tornando a revista mais atractiva. Em terceiro lugar, algo que é particularmente importante em Conservação e Restauro, as figuras passaram a ser publicadas a cores – algo que monetariamente era impossível na edição em papel. Nesta ocasião, o formato da página mudou para A4, de modo a que na impressão de algum artigo se aproveitasse melhor o papel, alteração esta que, curiosamente, aconteceu na época em que os Studies in Conservation, que tinham sido o modelo do formato inicial, tiveram igual transformação.

Primeiro número da revista em formato digital.

A partir daí aumentaram o afluxo dos artigos e as contribuições de outros países e nunca mais foi necessário fazer-se um número duplo por falta de contribuições [12]. Mais do que isso, cinco anos depois, em 2018, a revista mudou a sua frequência de publicação de dois para três números por ano [13, 14] e quando saí da revista, em 2019, já estava a ser ponderada a hipótese de passar para quatro números por ano. Isto sem mudar o nível e exigência (nesse período houve anos em que a taxa de aprovação não foi além de 30 %). Além disso, os atrasos de publicação tornaram-se inexistentes ou mínimos e a partir de 2016 a revista passou a publicar-se, sem excepção, na data indicada na capa ou até antes da mesma. Para dar resposta ao crescente número de artigos propostos para publicação, foi necessário alargar a equipa que fazia a revista (eu, a Francisca Figueira e a Maria João Revez), criando-se uma Comissão de Redacção. Surgiu no n.º 23 (de 2016), inicialmente constituída por nós os três mais a Cláudia Falcão, mas que dois anos depois já tinha onze elementos. Além disso, pelas mesmas razões, depois da saída da Maria João Revez após a publicação do n.º 28, de 2018, começou a aumentar o número de directores-adjuntos, em primeiro lugar com uma sugestão da direcção da ARP (Elin Figueiredo).

Muto antes de se chegar a esse ponto, no segundo número em formato digital, ainda em 2013, os artigos já tinham DOI (Digital Object Identifier), algo que actualmente é fundamental para revistas científicas em formato digital com ambição de circulação internacional e elevados padrões de qualidade de edição [15]. Associado a esse processo a ARP integrou a Crossref e a Conservar Património ficou indexada na respectiva base de dados onde muitas outras bases de dados vão depois buscar informação.

Os primeiros números digitais não eram temáticos, mas a partir do n.º 22, de Dezembro de 2015, tornaram-se frequentes esses números. De uma forma geral, tal como tinha acontecido na época de edição em papel, eram dedicados à publicação de artigos resultantes de comunicações apresentadas em encontros ou congressos como GILT-EnArt 2015 – Gilding Materials and Techniques in European Art (n.º 22, 2015) [16], III Encontro Luso-Brasileiro de Conservação e Restauro (n.º 23, 2016) [17], Património Cultural: Prevenção, Resposta e Recuperação de Desastres (n.º 25, 2017) [18, 19], I Colóquio Investigações em Conservação do Património (n.º 27, 2018) [20] e CREPAT 2017 – Congresso da Reabilitação do Património (n.º 28, 2018) [14]. Mas o último número de que fui responsável (n.º 31, 2019), igualmente temático, foi de outro tipo: não teve qualquer associação a eventos e foi especialmente preparado por editoras convidadas exteriores à revista (Ana Serrano, Maria João Ferreira e Emmy C. de Groot) [21]. Teve como título Estudos sobre têxteis históricos / Studies in historical textiles.

Último número de que fui director; primeiro número temático com editoras convidadas.

É de notar que, não obstante todas as iniciativas e colaborações em contextos internacionais, a maioria dos artigos continuou a ser publicada em português (67 % dos artigos dos números em formato digital contra 73 % no caso dos números publicados em papel). Isso era fundamental para se cumprir um dos objectivos que tinha estado na origem da Conservar Património: contribuir para o desenvolvimento da publicação em português. O facto de se conseguir conjugar isso com a circulação e o impacto internacional, obviamente que era uma enorme mais-valia.

Entretanto, resolvidos os problemas de circulação, afluxo de artigos e tempos de publicação, verificando-se que a revista parecia cumprir os requisitos formais de publicação das revistas de circulação mais reputadas, considerou-se que esses aspectos deveriam ser avaliados e reconhecidos através de plataformas ou bases de dados bibliográficas de referência na edição científica internacional. O contexto internacional não resultava de se considerar que o que vem de fora é melhor só por essa circunstância, mas sim de ser esse o contexto em que, por uma questão de escala, é habitual a avaliação de um conjunto de aspectos formais e de procedimentos de publicação que contribuem para a credibilidade das publicações científicas. Assim, em Fevereiro de 2014 foi feita uma candidatura à Scopus, da Elsevier, para inclusão da Conservar Património nessa base de dados, uma das duas mais importantes a nível mundial e com muitas consequências em termos de reconhecimento científico. Em 6 de Novembro de 2015 recebeu-se comunicação de que a revista tinha sido admitida. Foi dia de comemoração [22].

Em Maio de 2016 foram publicados os primeiros indicadores bibliométricos da Scopus em que surgia a Conservar Património: segundo o índice CiteScore 2016, encontrava-se a meio da tabela das revistas de Conservação e Restauro (30/57) e de Museologia (18/39)*. Independentemente das muitas críticas que se podem fazer a este tipo de indicadores, o facto de a Scopus pretender indexar apenas as melhores revistas de cada área e a Conservar Património ter entrado directamente para posições no meio dessas listas, ainda para mais com o handicap, neste contexto, de publicar predominantemente em português, foi motivo de orgulho e muita satisfação pelo reconhecimento do trabalho realizado.

CiteScore

Evolução do índice CiteScore e do respectivo percentil na área de Conservação e Restauro da Conservar Património durante os primeiros anos de indexação da revista na base de dados Scopus.

Estes resultados foram incentivo para uma candidatura à outra grande base de dados internacional, a Web of Science, que na ocasião se considerou ser de mais difícil acesso por parecer menos interessada nas Humanidades. Isso foi feito e a admissão foi comunicada a 19 de Setembro de 2017 [23].

Quando saí da revista, a Web of Science não disponibilizava indicadores para a Conservar Património, mas nessa ocasião a revista tinha subido muito nas listas da Scopus (20.ª posição entre as 65 revistas de Conservação e Restauro e 13.ª posição entre as 44 de Museologia) e tinha atingido o 1.º quartil na avaliação da Scimago, responsável pelo ranking de uso mais generalizado a respeito destes assuntos.

Estes indicadores e este tipo de reconhecimento são apenas uma parte da revista. Está por avaliar, de uma forma mais abrangente, o papel da Conservar Património no desenvolvimento da Conservação e Restauro em Portugal. Mas não é isso que pretendia fazer aqui. Aqui apenas pretendia registar, para memória, os passos iniciais da revista que aparentam terem caído no esquecimento. O tempo é inexorável e, como alguém terá dito, a gratidão tem memória curta.

 

* Os números aqui referidos são os que actualmente constam da Scopus e diferem dos números na ocasião disponíveis, mencionados nos editoriais.

 

1 Yourcenar, M., Le Temps, Ce Grand Sculpteur, Gallimard, Paris (1983).
2 Figueiredo, E.; Claro, A.; Sequeira, S. O., 'Conservar Património: 20 anos a publicar', Conservar Património 48 (2025) 7-10.
3 'Conservar Património', in Scimago Journal & Country Rank, https://www.scimagojr.com/journalsearch.php?q=21100463178&tip=sid&clean=0 (acesso em 2025-3-10).
4 'Conservar Património', in Scopus, Elsevier, https://www.scopus.com/sourceid/21100463178#tabs=1 (acesso em 2025-3-10).
5 Web of Science, Clarivate, https://www.webofscience.com (acesso em 2025-3-10).
6 'Apresentação de uma revista', Conservar Património 1 (2005) 3-4, https://doi.org/10.14568/cp1_1.
7 'Apresentação', Conservar Património 5 (2007) 3-4, https://doi.org/10.14568/cp5_1.
8 'Editorial', Conservar Património 7 (2008) 3, https://doi.org/10.14568/cp7_1.
9 'Editorial', Conservar Património 8 (2008) 3, https://doi.org/10.14568/cp8_1.
10 'Editorial', Conservar Património 9 (2009) 3, https://doi.org/10.14568/cp9_1.
11 Cruz, A. J.; Figueira, F.; Revez, M. J., 'Editorial', Conservar Património 17 (2013) 7-9, https://doi.org/10.14568/cp17fm3.
12 Cruz, A. J., 'Conservar Património: equilibrios en el presente', Revista PH 95 (2018) 210-215, https://doi.org/10.33349/2018.0.4235.
13 Cruz, A. J., 'Novas mudanças de uma revista em transformação', Conservar Património 29 (2018) 9-10, https://doi.org/10.14568/cp29fm2.
14 Cruz, A. J.; Revez, M. J.; Figueira, F., 'Este número e os outros', Conservar Património 28 (2018) 9-10, https://doi.org/10.14568/cp28fm2.
15 'Editorial', Conservar Património 18 (2013) 5-6, https://doi.org/10.14568/cp18fm2.
16 Sandu, I., 'Apresentação', Conservar Património 22 (2015) 5-6, https://doi.org/10.14568/cp22fm2.
17 Candeias, A.; Bordalo, R.; Souza, L.; Froner, Y.-A., 'O III Encontro Luso-Brasileiro de Conservação e Restauro – refletir a Conservação nas suas múltiplas vertentes', Conservar Património 23 (2016) 7-8, https://doi.org/10.14568/cp23fm2.
18 Cruz, A. J.; Revez, M. J.; Figueira, F., 'Sobre a importância das publicações para a conservação do Património', Conservar Património 25 (2017) 7-10, https://doi.org/10.14568/cp25fm2.
19 Magalhães, I. R., 'Património Cultural: Prevenção, Resposta e Recuperação de Desastres', Conservar Património 25 (2017) 11-13, https://doi.org/10.14568/cp25fm3.
20 Bailão, A.; Pereira, F. A. B., 'I Colóquio “Investigações em Conservação do Património”', Conservar Património 27 (2018) 11-12, https://doi.org/10.14568/cp27fm2.
21 Serrano, A.; Ferreira, M. J.; de Groot, E. C.; Cruz, A. J., 'O património têxtil e a interdisciplinaridade', Conservar Património 31 (2019) 13-15, https://doi.org/10.14568/cp31fm2.
22 Cruz, A. J.; Figueira, F.; Revez, M. J., 'A revista “Conservar Património” num ambiente de publicação internacional – a propósito da indexação na base de dados “Scopus”', Conservar Património 24 (2016) 7-10, https://doi.org/10.14568/cp24fm2.
23 Cruz, A. J.; Figueira, F.; Revez, M. J., 'Sucessos de uma revista em 2017', Conservar Património 26 (2017) 7-9, https://doi.org/10.14568/cp26fm2.